Fina Flor



Inseguro! Sinto-me inseguro. Por quê que tenho sempre medo de ser deitado fora como uma flor que já murchou? Tenho medo de espalhar as minhas pétalas num saco de lixo misturado com a sujidade de um grande festim. Medo de partilhar os sentimentos ao lado de restos gozados por ti. Medo de ser deixado ao lado de um preservativo cheio de sémen humano que está recheado de milhares de sementes de vida. Estas sementes de vida que estarão a morrer ao meu lado. A morrer sem atingir o seu principal objectivo. Imóvel vejo o escuro, um túnel sem saída… Uma gruta… Sem luz, sem foco, estou perdido. Repugnas-me tanto por vezes, mas sinto-me obrigado a ficar calado para continuar a desfrutar o momento em que arrepias-me com um simples sopro no meu pescoço. Dás-me beijos salivantes e sinto deslizar esse liquido que se produz abundantemente nas tuas glândulas no meu peito para molhar os meus sentimentos tornando-os turvos como uma manhã de ligeira neblina.
Ando cego, perco-me nesses restos teus. Às vezes tenho vontade de entrar num bulldozer sentimental para destruir uma selva repleta de pinhos e folhas desfeitas por roedores desfiguradamente úteis para a tua floresta.
Um pássaro canta. O meu líquido xilemico bloqueou. Será que aquela erva daninha desistirá de contaminar as outras flores para injectar o seu veneno mórbido contra mim e contra a flor celestial? Não sei se ela se chama assim, mas essa cor, a cor dos seus botões perturba-me. Aliás, tudo nela perturba-me. Essa flor tão rara é tão fraca que não sei se me apetece protege-la sem eu sofrer em retorno. Odeio-te tanto, mas tanto por me fazeres isso, mas agora temos que nos enquadrar neste meio hostil. Eu só estou a espera que uma alma me tire desse lixo que me puseste para que eu possa sobreviver a isso. Mesmo que tenha que beber litros de etanol e perder a cor das minhas pétalas, mesmo que tenha que gastar as minhas últimas pétalas quero sobreviver a isso. Quero te provar que mesmo sendo um tronco nu de folhas e de cobardia. Irei provar que tenho valor. Irei provar que sou algo de raro a não desperdiçar, mas por vezes penso que não mereces esse esforço.
Quero-te longe. Quero-te distante. Mas sinto falta de ti… Falta do teu sorriso… Falta dos teus cravos… As minhas lágrimas percorrem o meu corpo para explodir e espalhar-se no chão onde irei evaporar-me e só assim voarei com elas para outro destino. Mas para onde vou? Vou me por noutro quintal onde irei sofrer outra vez. Já estou farto de sofrer, mas infelizmente acho que o meu fado é esse.
“Cansado de tudo e de todos, vou rebentar e vou tornar-me numa fonte de luz”* para guiar almas que entram comigo na decadência dantesca e satânica do amor. Estou sempre a contradizer-me, digo que o amor já não existe, mas estou sempre desiludido a tentar entrar na sua sinfonia folko/melancólica.
Aguarde, o Ludo vai (re)surgir do nada! A primavera está a chegar, vou explodir em milhares de cores para atrair borboletas e abelhas que espalharão a minha essência por todo lado. A minha dor sanguínea, mas pura rastejar-se-á pelo mundo fora. Mundo em que não quero a tua presença.


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