Neo-sensacionalista

Existem palavras boas e fabulosas que nos fazem arrepiar até estalar a pele. Palavras para acalmar almas podres e pobres que roubam aos olhares dos enamorados um olhar arrepiante e nojenta de felicidade. As palavras sempre me ajudaram a desabafar, a despejar as minhas mágoas numas cicatrizes florestais mais conhecido por papel. A minha escrita define-se como um desabafo de palavras banhadas no cinismo ou num sangue que derrame um sofrimento perdido e sentido. Escrevo palavras que me foram cuspidas a cara como uma mentira que chicoteia a minha mente que quer aliviar-se dos prazeres proibidos que a minha fé tenta recusar.
Oiço palavras que me magoam, palavras acabadinhas de sair direitinhas de uma faringe bem quentinha e que me comem por inteiro, palavras caras, usadas, (re) usadas e velhas saídas numas bocas alheias e que me fazem cair em mim.
Sim! Confesso que preciso de tempo e de carinho, mas não estava a espera de tanto. Afinal a infelicidade fica-me tão bem. Neste mundo nada me acorrenta a ti e penso que amanhã será uma outra aurora que levará com ela o meu sofrimento para se evaporar aos primeiros raios ultravioletas que acariciarão a minha pele húmida devido aos rastos das minhas lágrimas. Todos os segundos tropeçam na minha mente a avisar-me para não esquecer o “nosso” tempo maravilhoso, longe da jaula forjada de um ferro negro como a minha alma moribunda que divaga pensamentos neo-sensionalistas numa sociedade morta pelo marxismo. Os meus olhos pedem-me para olhar para ti como uma árvore e que lhe tire os seus ramos para concluir que não passas de um tronco, que não passas de uma alma fraca. Se der ouvidos aos meus olhos conseguirei assim acalmar o meu dinamismo ultra rancoroso contra ti e recalcarei o meu delírio artístico nas minhas mãos marcadas pela tinta azul da caneta.
Adeus triste Amor!
Tenho pena das pessoas que só têm o amor para conhecer o significado da palavra “partilhar”, que só tem o amor para explodir beiços de felicidades, para viver em promessas sem outras riquezas, para mobilar o sol com um véu de cetim.
Sinceramente enjoei dessas pessoas, da palavra “sempre”, desses seres dependentes que só tem esta música no berço do tímpano para acordar felizes numa manhã rabugenta que não quer mostrar o sol aos terráqueos.
Claro que tivemos trovoadas na nossa relação e dei por mim milhares de vezes voar num delírio lírico para fugir de ti. Mas infelizmente cada móvel imóvel nesse teu quarto branco nupcial lembrara-te a o tempo em que nada era o que parecia, em que vivíamos num falso simulacro e de simulações onde perdeste o sabor da minha água e eu da conquista. Decerto, sei que todas as bruxarias deixaram-me enfeitiçado e que me aprisionaram nesta tua tenda cheia de malabaristas e de equilibristas como uma armadilha onde perdi o meu tempo a tentar escapar. Pois neste tempo em que eu estava preso na tua teia tu provaste sabores de outros lábios.
Chega de metáforas e de enumerações aliteradamente comparadas a tua personificação numa analpse paradoxalmente eufenimizada !
Chegou a altura de o meu corpo exaurir para que finalmente as nossas almas se distanciam.
O cortejo do nosso “falso amor” já espreitava pela fechadura uma era de lágrimas que arrancaram os nossos mistérios, que negaram o nosso “nós” na corrente tóxica da água potavelmente dolorosa deixando crateras horrivelmente suaves no meu peito.
Que dor!!!
Que sofrimento passa o meu coração que se ilumina pela aurora mas que morre ao deitar-se do sol.

Lágrima seca


Lembro-me de tudo, lembro-me do nosso primeiro encontro, do nosso primeiro beijo e da nossa primeira noite. Ingénuo inspirava o perfeito amor, mas por pena perdida eu lutei. A minha dor e a minha piedade não sossegam o meu estado alienado. Eu dei-te tudo sem hesitar, a minha pele, o meu sangue e dois anos da minha vida, porquê trair-me? Qual foi o teu prazer ao desfigurar o meu amor.
Odeio esse Anjo Negro que és. Levo comigo a cicatriz que me fizeste e transpiro com todo o meu sangue a minha raiva por ti. Fica com as tuas palavras, com as tuas prendas, eu desprezo-as tanto como as tuas mentiras. Imploro a Deus que me quebre a corrente que me liga a ti, mas não sei por quê continuo a amar-te.
Todas as pessoas cuspiram, gritaram-me a verdade e eu de olhos vendados só te imaginava comigo, ignorava tudo mesmo sabendo que era um facto verídico mais que analítico. Em frente desses sermões eu sorria um perdão. As vossas palavras, a vossa piedade só faziam crescer em mim uma raiva que me possuía por inteiro. Odeio-te, seu Anjo. Imploro que me quebrem a corrente, porque eu estou a arder nas chamas do inferno a tua espera.
Encontrei em frente da nossa porta um pedaço teu, palavras lançadas como notas musicais num piano de madeira. A chuva que reinava lá fora borratou o meu nome como lágrimas arrancadas dos meus cravos pela força gravitacional. Num pensamento neo-realista penetrei na nossa casa, nesta casa tão triste que parecia uma noite de luto. Olhei a minha volta as tuas fotos e o teu cheiro tinham desaparecido. Neste ambiente de sofrimento li a tua carta onde me dizias:

"Desculpa já não posso ficar aqui, o teu ser está muito presente no meu coração, por isso fujo levando a minha cobardia comigo".

Sim, foste uma cabra, uma estúpida e nesse pedaço teu li e percebi o teu pedido de desculpa, mas tu sabes o quanto me fizeste sofrer? O teu coração já não tinha sentido para estar comigo, precisaste de outra pessoa. Foi por isso que tu fugiste, sem ver a minha face, sem ver a minha desgraça, porque não te querias rir da minha cara.
A minha consciência desceu para os 7 Anéis do Inferno e preferiste trocar-me por outro. A dor do meu peito verteu sossegadamente quando andava a tua procura, o meu coração e as minhas lágrimas que fugiam de mim não te encontraram nesta busca sem fim. Vi os meus dias passarem com uma extasia de indiferença. Hoje só tenho uma coisa, um pedaço teu, uma mera folha, uma mera correspondência. Tu fugiste por amor a pensar em mim, mas não querias dormir nos meus braços... Porquê???
Em respeito aos nossos anos de felicidade eu posso tentar esquecer-te. Sim! Fizeste-me sofrer, mas sem ti é muito pior. Se pudesse escolher queria ver-te outra vez ao meu lado para repousar o meu sossego e o meu luto.

Amar = Morte


A noite está a chegar ao fim, mesmo se consigo forjar o ferro para construir uma corrente, não consigo deixar que o sol se levanta rejeitando a lua para o outro pólo da Terra.
Para mim isso é morrer com os olhos abertos.
Porque o meu tempo torna-se assassínio e porque vejo o dinheiro juntar-se a miséria, porque todos esses fenómenos tem um objectivo que não consigo decifrar, vejo o meu sonho americano arrastar-se num deserto de água onde afogo-me neste azul, neste reflexo de céu que me faz lembrar uma liberdade absoluta.
Vejo no meu sofrimento um declínio satánico, onde discretamente espreito mulheres semi-nuas que vendem o corpo para alimentar os seus filhos bastardos. Nessas crianças consigo ver o cheiro da repugnância e da vergonha pousadas nos ombros. Eu como elas continurei a lutar. Mesmo se alguem me atira uma bala no peito irei cicatrizá-la com um raio de luz para conseguir guiar-me nesta morte sem fechar os olhos. Quero enfrentar o anjo escuro e esquelético mais chamado por Balzebut para ver a sua reação. Só aqui, só neste momento poderei beijar um Adeus. Irei gravar na areia movediça um sermão fúnebre para dizer a todos os olhares alheios que estava a espera deste momento, momento esse que autrora me assustava me inundava de medo.
Vou viver a minha vida de morte, deixarei-vos o meu corpo para levar comigo no nirvana a minha fé para viver longe e intensamente. Quero conseguir a minha morte para respeitar a minha vida. Desejo que a matéria se torna em pó e que a tua alma se transforma num arco-íris para esqueceres essas dores e conhecer a douçura da multiplicação platónica dos meus sonhos. Assim irei esquecer a raiva que existe no corpo dos humanos, do dinheiro que domina o mundo, do ciúme e dos falsos sentimentos.
Não estou preocupado! O anjo da foice sabe o caminho, sabe o momento e o instante (que autrora tanto me assustava) para levar-me com ele. Não preciso de criar raízes nesta sala de espera que é a Terra para poder voar para outro universo. A minha fé acompanha-me. Não tenho medo. Respeito a minha vida e adoro-te sem fim.
AMO-TE.