Vila Real


Em frente de um leite achocolatado
Na meia-noite por cima do “Solar d’Ouro”
A chuva cai com força
E as tuas mãos suaves acariciam-me
Algumas marcas no canto dos lábios
Um sopro, um beijo vermelho nocturno
Depositado numa testa febril
Para arear o teu tédio

Num cantinho do Pioledo
Um whisky entre as vozes
E o sabor do absinto
Queimam os cantos dos meus olhos de santo

Deixa-me provar no teu pescoço
O sabor de um líquido agridoce
Gemendo um palco no teu couro
Para se eternizar no meu copo

Um café a beira da estação
Na Rainha, joga-se preto no preto
Por baixo da sombra procuro-te
Mas esse comboio imóvel impede-me de fixar

Apanho-te num último olhar
Era preciso um atraso
Para que aos meus carris te agarrasses
Para que estivéssemos presos
Para que nesta conexão eternizássemos a nossa ligação

Uma gazela no Vilalva
As nossas lembranças acusam a queda
E transformam-se em reflexos que transbordam
As minhas costas num virgem alcorão.

Releio sem fim essas fugas
Impressos das tuas mãos atentas
Muitas imagens na minha testa ardente
Os nossos clichés, começo a devolvê-los

Vila real
Um estudante no proibido
Em terreno conhecido fugimos
Rio Corgo
Bate-se no paralelo todas as noites
Erro de fuga num luar escuro