Vila Real


Em frente de um leite achocolatado
Na meia-noite por cima do “Solar d’Ouro”
A chuva cai com força
E as tuas mãos suaves acariciam-me
Algumas marcas no canto dos lábios
Um sopro, um beijo vermelho nocturno
Depositado numa testa febril
Para arear o teu tédio

Num cantinho do Pioledo
Um whisky entre as vozes
E o sabor do absinto
Queimam os cantos dos meus olhos de santo

Deixa-me provar no teu pescoço
O sabor de um líquido agridoce
Gemendo um palco no teu couro
Para se eternizar no meu copo

Um café a beira da estação
Na Rainha, joga-se preto no preto
Por baixo da sombra procuro-te
Mas esse comboio imóvel impede-me de fixar

Apanho-te num último olhar
Era preciso um atraso
Para que aos meus carris te agarrasses
Para que estivéssemos presos
Para que nesta conexão eternizássemos a nossa ligação

Uma gazela no Vilalva
As nossas lembranças acusam a queda
E transformam-se em reflexos que transbordam
As minhas costas num virgem alcorão.

Releio sem fim essas fugas
Impressos das tuas mãos atentas
Muitas imagens na minha testa ardente
Os nossos clichés, começo a devolvê-los

Vila real
Um estudante no proibido
Em terreno conhecido fugimos
Rio Corgo
Bate-se no paralelo todas as noites
Erro de fuga num luar escuro


Uma última valsa...

Foram anos a percorrer o teu corpo com o meu sopro que acariciava a tua cara.
Encontrei o ouro e até as estrelas quando de um passar de mão hábil e subtil limpava as tuas lágrimas.
Aprendi de cor a pureza das tuas formas para que mais tarde pudesse pintá-las na minha matéria cinzenta, onde a conexão entre os meus neurónios possam gritar o teu nome. Para que esse pedaço do teu “tu” conectara ao meu “eu”.
Conheci-a cedo demais porém, a culpa não é minha… Esta flecha atravessou a minha pele e essa dor guardo-a porque ela estimula em mim um prazer inacabado. Infelizmente já conheço essa nossa história, li no teu olhar acastanhado uma viagem em preparação; viagem com origem no meu coração mas como destino, outra alma carente que não resistiu ao teu charme sólido e que também não me deixou indiferente. Por isso decidi falecer espiritualmente porque o tempo não pode voltar atrás, e penso, que recebi das tuas mãos uma felicidade passageira que passou numa viagem expresso na corrente sanguínea das minhas veias, que ligam o meu coração para que de uma batida possa dar um passo nessa solidão amorosa que é a minha. É difícil por um só homem vê-la fugir sem pronunciar um “fica”, simplesmente murmurei um “amo-te” como se murmura um “vai-te embora”.
Só quero partilhar o teu ar mais uma vez para te agradecer de ter maravilhado a minha vida e peço te uma última dança, antes que a sombra e a indiferença caia numa vertigem silenciosa. Lembra-me de me inspirar em ti, das noites, das auroras, das minhas derivas lúcidas, dos dias em que as ruas exsudarem o vazio das cidades do meu corpo, dos meus desejos recalcados na viagem vertiginosa dos sonhos implícitos que me atiram apreste de 9 milímetro na minha alma.
Penso que a tua raiva também é a minha, é idêntica ao dourado solar que enrubesça no meu rio, a minha esfera, as minhas correntes que picotam a minha pele num vermelho sanguíneo. Os nossos corpos nunca mais vão poder tocar-se porque a raiva brinca a dar a volta no coração dos átomos que em conjunto dá vida ao “ nós”, a corpos autónomos e arraçoados onde a esperança é corroída por um vírus chamado “AMOR” transformando-nos em seres melodramáticos.
Tremo e pondero,
Fico e analiso.
Uma ruga no espelho, estou a ficar velho, vejo ao lado a minha cama que tem lugar por nós os dois, mas a tua ausência exalta uma tristeza em mim porque antes que a minha vida passa quero guardar a tua imagem ao meu lado nesta cama comigo. Esta ruga põe-me a pensar na verdadeira questão amorosa... Será que fomos felizes?? mas por enquanto a luz do meu quarto vazio apaga-se pouco a pouco e antes de estar rodeado no escuro que guardar a esperança de um possível regresso teu.
Último aviso de tempestade,
último refrão,
viver sem pensar no amanhã,
dançar até fazer girar a Terra,
descer na era do " será que nunca fomos felizes"???.
Último cigarro, acompanhado por um copo de whisky,
quero beber e fumar para festejar a tua perda antes que começo a correr no pântano da infelicidade.
Quero dançar, e revelar sempre a minha alma na desgraça desse espelho, continuar essa nossa última valsa nesta decoração mórbida do meu quarto que está nu de fotos tuas, nu de roupas tuas e nua de nós....
Se eu me esquecer de ti dou a minha vida, a minha sombra, para que desta soma, o resultado dê certo para a problemática do esquecimento… do meu esquecimento…

Hipocondríaco ou atrofiado????

Pelo que dizem sou um hipocondríaco, faço de tudo uma doença. Eu sou um micróbio num ninho de bactérias e eu sozinho consigo construir-me um império de epidemias.
Doente por um nada encho-me de angústias molhadinhas no desespero e que me deixa petrificado por toda a humanidade.
Doente como um cão rafeiro transporto o Homem numa célula de gripe existencial que torna o seu coração frio e provocar na sua alma uma constante guerra nupcializada no ódio.

Fraco demais para me distanciar do fogo, tremo só na ideia de ser um Homem e de ser como eles. Por isso escolhi lutar no fundo do meu colchão com o medo da raiva ser uma doença. Como a peste negra eu fujo dela e tentarei fazer menos estrondo, menos remorsos, menos mal a fazer-me de morto.

Eu sofro o mártir de todo o mal que nos rodeia....e de quem é a culpa?
Sofremos o mártir por todo o mal que provocamos e por isso dói-me pelos outros. Sim sofro de uma enorme empatia porque destrói-me ver o ser Humano feliz na sua miséria como animal. Dói-me aqui! Dói-me além.... tive a minha recompensa no horror, sinto-me mal na minha pele e mal no coração....
Médico, médico, médico?!... preciso de ajuda!
Sinto-me num lugar errado e estou farto desta vida, farto do meu "eu" constantemente triturado na agonia.
Por favor não me levam para o departamento psiquiátrico...
Ando lentamente sem direcção definida na linha da minha mão. Assim posso usufruir da ausência de "gente" que poderiam relembrar que vivo aqui convosco.
Vejo o tempo a deslizar e fico como bêbado na minha solidão amarga no meio da vida... no meio dessa multidão cínica, inútil, feiosa....
Espero, Espero que me abram às portas;
espero, congelado num mundo irrequieto...
As nuvens choram de não poder olhar para trás e eu estou petrificado só na ideia de ter medo e de não poder fugir desse mundo chamado Terra. Olho para o meu relógio e observo a agulha do tempo agitar-se loucamente no infinito do espaço e do vento que me torna louco. Nessa noite mais nada me resta do que uma migalha de esperança no seio da minha mão e penso que a culpa de o meu infamo mau estar é derivada a esses néons azuis que me iluminaram tempo demasiado e que conseguiram pôr-me cego...
Chega de estratificações! chega de rótulos para diferenciar os Homens eles são todos iguais, não me venham dizer que há hetero, bis, homossexuais, basofes, dreads, betos, yuppies, EMOs, freak, pitas.... O homem quer sempre se diferenciar mas se ele for comprar um espelho (dos chineses que são mais barato) poderá constatar que ele é igual... A cor pode mudar mas a sua Anatomia não muda, não se transforma... HOMEM = HIPÓCRITA...

Agora fujo, mas... Espero que um dia alguém me acende a luz... Espero que um dia as minhas ideias e razões esclarecem o meu "ser" que está sempre a ser atrofiado e aspirado pelo além...

C'est la musique... Qui fait qu'on voyage...


Quando fecho os olhos, dou por mim a espera o “tudo” e o “nada”. Quero deixar-me levar pelo delírio lírico para me poder transportar para outras margens paisagísticas que sejam elas felizardas ou azaradas…
Às vezes faço fisgas onde torço os meus ossos tão bem articulados para esperar pouco ou simplesmente tudo de ti.
Já sei... Vocês irão dizer-me que estou sempre a nutrir uma ilusão puramente mágica mas preciso de acreditar nesse constante absurdismo mental. Preciso de sonhar como toda gente, preciso de me (re) inventar momentos como esses.
Não sei…
Talvez preciso mesmo de ser um delirado para dar sentido ao meu ser e para que o meu super ego pare de me chatear com a sua racionalidade metafísica que tanto me irrita. Pelo menos tenho a certeza de uma coisa, eu quero ver o sol levantar-se todos os dias e peço a todos para não me acordar porque tudo é mais bonito por baixo das minhas pálpebras e mais real no meu subconsciente.
Vês? É desse sonho que quero aspirar para a minha vida fútil e efémera. Ver-te chegar ao meu lado e deixar-me levar pela aragem do teu carinho, da ternura dos teus olhos e do estaticismo do teu sorriso maquiavélico que tanto me arrepia.
Quero guardar os meus olhos clausulados.
Uma vez uma amiga minha disse-me que queria jogar com o tempo para pôr o tempo para trás para remediar os seus problemas amorosos ou sentimentais mas nós não temos o poder de Andy Warhol, não podemos nos pendurar numa torre onde podemos mexer as agulhas para pôr o tempo para trás. E é desse absurdismo que peço que de nenhuma terra possa descer porque estou a planar numa mesosfera que me queima. Mas se querem saber eu gosto de me queimar com esse teu sopro tão vital para a minha loucura platónica.
Eu nunca irei te trocar, só irei passar o testemunho para outra pessoa e k esse alguém me perdoa se quero seguir o meu sonho.

Ouvi a nossa música em todas as ondas FM, como um amor de adolescentes que nos faz descobrir o mundo e k nos segura a mão como um irmão crescido para não tropeçar. Ainda nos vamos reencontrar. A ausência do "estar juntos" é segurada de um piano ao outro... E isso…. chamo de música.
A música ajuda nos a suportar a vida e que ajuda-nos a viajar e a esquecer os nossos problemas. Nunca se pode trocar alguém que se ama, alguém que seguia-mos do olhar mesmo se era de longe.
Com 4 mãos onde eu só represento um par mantenho essa nossa música.
A música pode ser eléctrica ou sinfónica
acústica ou fantástica, para chorar a nossa nostalgia ou dançar toda uma noite.
Para inventar-se outras vidas ou para passar as nossas insónias,
para procurar um futuro e acreditar numa liberdade absoluta...
Eis a minha visão da música que me faz lembrar que vivo num paraíso, sem ela o k éramos?